marcela levi

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Paris art
Les Inaccoutumés
2008

Outra surpresa muito boa da edição 2008, a peça de Marcela Levi [...]. Mais implícita, não falta, entretanto, audácia nem uma certa violência na proposta da jovem coreógrafa brasileira. Cavalgando uma cabeça de boi, ligada a ela num movimento de bacia que sugere a penetração, diz da animalidade da mulher e do desejo de dominação do homem, do sexismo das tradições conjugais e tauromáquicas, do erotismo e do mórbido. A beleza selvagem (e plástica) da peça se colore com uma autoderrisão corretamente dosada, que libera de seu peso o discurso pressuposto.

A performance, plena de hieratismo e dignidade, se realiza numa denúncia feminista que lembra a obra de La Ribot.

Marcela Levi, tão bonita em sua nudez e na crueza de suas palavras, traz do Brasil a história de uma região onde os vaqueiros pegam a laço as mulheres num ritual que celebra o poder e o domínio dos homens. Como única resposta para este relato, a dançarina transforma o laço em um espartilho, depois numa coleira e se amordaça. Uma cabeça de touro também se transforma em falo, e nós nos lembramos de que na França os adolescentes bebem um suposto "suco de touro", para poder dançar a noite toda ...

Muito pouco visto na França, o trabalho da coreógrafa brasileira Marcela Levi justapõe dança e artes visuais. Com In-Organic - designada como uma das melhores peças coreográficas do Lornal do Brasil em 2007 - ela coloca no centro de sua escrita a questão essencial do desejo. Enigmática, esta peça traz a cada um de nós imagens múltiplas e complexas.