marcela levi

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o que é o coro. coro
criação de Levi & Russo para o Balé da Cidade de São Paulo













um tempo que se curva para frente e para trás. acabarcomeçar. a partir de amanhã tudo começará a estremecer com germinações e recomeços. andamentos. as revoltas da matéria. andamentos. montar desmontar remontar. infinitas possibilidades da relação. por meio de uma força magnética elementos se atraem através do tempo e do espaço. uma forma de rearranjo. um mundo de muitos mundos. um arquipélago. uma passagem e não um muro. Cada fragmento é uma passagem e a paisagem muda a cada dois três cinco quilômetros. montar desmontar remontar. estar entre cima e baixo. lado e outro. sair da frente. difratar-se. instaurar-se em outras direções. virar. girar as cabeças. o que é o coro. coro. o que é o coro. coro. uma zona de contato que vai e vem. litoral. literal. mar terra céu. platéia balcões galeria. fosso palco coxia. o que é o coro. coro. o que é o coro. coro. é como ir saltando de pedra em pedra. um lance de pássaros.


“A natureza sabe como usar seus colapsos para produzir uma vivacidade sem precedentes: as árvores resgatam do trauma seu vigor, e o ecossistema, ferido, se chacoalha para redistribuir possibilidades de variadas intensidades.”
Édouard Glissant



o que é o coro. coro

Tomando as noções de arquipélago e litoral para perspectivar a pergunta "o que é o coro. coro", lançada pela escritora estadunidense Gertrude Stein em sua peça A questão da Identidade, demos início a este trabalho com o BCSP. O litoral: zona de contato que vai e vem, aproximando heterogêneos — mar, céu e terra —, e o arquipélago, um mundo de muitos mundos, ou ainda, segundo o poeta martinicano Édouard Glissant, "uma passagem e não um muro", nos deram passagem para imaginar a sala do Theatro Municipal de São Paulo como um arquipélago composto por três ilhas: o palco, o fosso e a plateia, que, com seus balcões nobre, simples e galeria, nos convocou a pensar a verticalidade de modo horizontal. Como desafixar essas alturas? Estender faixas litorâneas entre cima e baixo e lado e outro, em uma dramaturgia entretecida pelas dimensões da memória, ou seja, um arquivo de um tempo ausente, fragmentado, não linear, simultâneo, onde as relações entre a visualidade e a sonoridade se remontam de maneira anacrônica, através de paisagens visuais entrecruzadas com paisagens sonoras que carregam um tempo outro, em um processo de montagem, desmontagem e remontagem.


“600 a.C", ou “1000 d.C”, não significa nada no continuum do espaço-tempo das Américas. Na verdade, nós já temos uma concepção circular, espiralar, caótica, da recuperação de um tempo possível.”
Édouard Glissant

o que é o coro. coro

Cena III

Cachorros e pássaros e um coro e uma terra plana.

Como você gosta do que você é. Os pássaros sabem, os cachorros sabem e o coro bem o coro
sim o coro se o coro qual é o coro.

A terra plana não é o coro.

Natureza humana não é o coro.

A mente humana não é o coro.

Transpiração não é o coro.
Lágrimas não são o coro.
Comida não é o coro.

Dinheiro não é o coro.

O que é o coro.

Coro. O que é o coro.
De qualquer forma há a questão da identidade.

E isso também tem a ver com o cachorro.

O cachorro é o coro.

Coro. Não o cachorro não é o coro.


Scene III

Dogs and birds and a chorus and a flat land.

How do you like what you are. The bird knows, the dogs know and the chorus well the chorus yes
the chorus if the chorus which is the chorus.

The flat land is not the chorus. Human nature is not the chorus. The human mind is not the chorus.
Perspiration is not the chorus. Tears are not the chorus.

Food is not the chorus. Money is not the chorus. What is the chorus.

Chorus. What is the chorus.

Anyway there is the question of identity. And that also has to do with the dog.

Is the dog the chorus.

Chorus. No the dog is not the chorus.



(Parte IV. A questão da identidade. Uma Peça. Gertrude Stein / tradução Inês Cardoso)




FICHA TÉCNICA

Marcela Levi e Lucía Russo
Concepção, direção e desenho de som

Lucas Fonseca
Assistente de coreografia

Martim Gueller
Cocriação do desenho de som e pianista convidado

Laura Salerno
Desenho de luz

Camila Schmidt
Cenografia

Levi e Russo em colaboração com João Victor Cavalcante
Figurino

André Omote
Sonorização


Agradecimentos: Ícaro dos Passos Gaya e todes es artistes que fazem ou fizeram parte da Improvável Produções daqui para trás, Bruno Ruviaro, Bruno Rezende e Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro


Performance e cocriação

Alyne Mach, Ana Beatriz Nunes, Ariany Dâmaso, Bruno Rodrigues, Camila Ribeiro, Carolina Martinelli, Cleber Fantinatti, Erika Ishimaru, Fabiana Ikehara, Fabio Pinheiro, Grecia Catarina, Harry Gavlar, Isabela Maylart, Jessica Fadul, Leonardo Hoehne Polato, Leonardo Muniz, Leonardo Silveira, Luiz Crepaldi, Luiz Oliveira, Manuel Gomes, Marcel Anselmé, Márcio Filho, Marina Giunti, Marisa Bucoff, Odu Ofá, Rebeca Ferreira, Renata Bardazzi, Reneé Weinstrof, Victor Hugo Vila Nova, Victoria Oggiam, Yasser Díaz


PROGRAMA